sábado, 27 de dezembro de 2008

DO MEU BLOG DA AOL. 2001


A ORIGEM DO CRISTIANISMO
A Origem do Cristianismo
é um livro do escritor Iakov Lentsman, editado em Lisboa pela Caminho, sobre as origens da seita cristã iniciada entre pescadores judeus.
O livro traz o resultado das investigações de teólogos e historiadores sobre os documentos e monumentos que esclareçam as origens da religião cristã.
Surpreendentemente não foi encontrada qualquer documentação ou monumento que comprove os relatos bíblicos, especialmente os relativos ao Novo Testamento e à história de Cristo.

Os escritores e historiadores dos povos que conviveram com os cristãos não mencionam nenhum Jesus Cristo, nem se referem aos cristãos na palestina durante os primeiros duzentos anos da era cristã.
Judeus e romanos, povos cultos, contando com escritores e historiadores, nunca poderiam ignorar os fatos narrados no Evangelho, pois fatos menores tiveram registro.

Os romanos eram ciosos do seu Direito, o famoso direito romano, entretanto não existe o processo do fundador do cristianismo, Jesus Cristo.
O historiador judeu Flávio Josefo foi historiador dedicado que narrou os fatos mais importantes de sua época mas não menciona nenhum Jesus Cristo ou outro profeta cristão morto nas condições descritas no Evangelho.
E Flávio Josefo viveu exatamente na época em que Jesus teria vivido e fundado cristianismo.
O único documento existente é o próprio Evangelho escrito e reescrito pelos próprios interessados mais de um século depois dos fatos, mas mesmo os evangelhos não existem mais no original, nem mesmo uma cópia nas línguas originais.
As cópias mais antigas datam de 400 anos depois da suposta morte de Jesus e são a cópia da cópia, escolhidas entre inúmeras outras pelos bispos católicos reunidos em concílio.
Existe uma cópia no Vaticano de alguns livros e outra na Inglaterra.
Tudo indica que Cristo é um mito criado pelos escravos judeus do Império Romano.
Em torno deste mito formou-se uma seita dissidente do judaísmo tradicional.
Posteriormente o Império decadente adotou o cristianismo como religião oficial e organizou sua difusão pelo mundo.
Difusão que dura até hoje.
surpreendente que existam pessoas que acreditem em textos de origem duvidosa, escritos muito depois dos fatos que dizem descrever, mencionando personagens que provavelmente nunca existiram; textos cujos originais se perderam e que narram acontecimentos contados como verdadeiros por escravos analfabetos do Império Romano.
É estranhíssimo considerar tais escritos como verdade sagrada e absoluta.
O que as pesquisas científicas comprovam é que o cristianismo se originou entre os judeus expulsos da Palestina, residentes na Ásia Menor e no Egito.
Não havia, originalmente, cristãos na Palestina, onde são minoria até hoje.
Entre os judeus dispersos, escravos do Império Romano, desencantados com o judaísmo, surgiu a seita pregando que o Messias Salvador - esperando mas nunca vindo - era um ser divino - o Cordeiro de Deus.
O livro mais antigo do Novo Testamento, o Apocalipse, escrito nesta época, identifica as sete igrejas da Ásia onde a seita cristã nasceu.
Interessante é que o livro não menciona Jesus Cristo, justamente porque foi escrito antes do surgimento do mito evangélico.
Mesmo contra a vontade da hierarquia eclesiástica o livro foi incluído na Bíblia devido ao respeito que lhe era devido pela maioria dos fiéis.
Os textos do Novo Testamento foram redigidos pelos padres depois que o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, conforme as conveniências do governo imperial. Como religião oficial passou a controlar todo o mundo acadêmico, tornando-se senhora das escolas e controladora do saber científico, filosófico e até militar, através das cruzadas para ocupar a Palestina.
Em conseqüência deste controle que durou aproximadamente mil anos, os escritores e cientistas foram forçados a se tornarem religiosos para poder estudar e trabalhar.
Sendo assim, os textos evangélicos trazem muitas orientações verdadeiras, muitos bons pensamentos ao lado de muitos preconceitos e falsificações de todo tipo.
Era tão freqüente a falsificação que o autor do Apocalipse introduziu no final do texto uma praga contra os copistas que suprimissem ou acrescentassem qualquer palavra ao texto original.
A Origem do Cristianismo, cita os fatos que comprovam a gigantesca farsa que é o mito evangélico.
Uma ideologia eficaz para exercer o controle social, transferindo para um "outro mundo" imaginário e futuro, a solução dos problemas reais do mundo do presente.PE. JEAN MELIER
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Ser bom, sem religiãoEvitando a dor da alma
Evitando a dor do corpo pelo atendimento a nossos desejo naturais é necessário evitar a dor da alma.
E a maior dor da alma vem do medo.
O medo da morte e o medo dos deuses.
O medo é mau conselheiro e, segundo George Lukas, gera a ira e o ressentimento.
O medo da morte nasce da nossa consciência que antecipa o futuro.
Para os irracionais a morte é uma experiência única, mas nós, conscientes, antecipamos o futuro e isso consome nossa alma.
Somos racionais e a mesma razão que nos prende pode nos libertar.
Compreendamos que a morte não existe enquanto vivermos e, uma vez mortos, não existimos, então, não sentimos, exatamente como era antes de nascermos.
Vivos não há morte, mortos já não somos.
Não podemos ter medo do que ainda não existe e, quando existir, não estaremos lá.
A dor será para os outros.
Aceitar a própria morte não é fácil mas é essencial para uma vida tranqüila.
Muitos embusteiros vivem do medo da morte.
E a este medo ajuntam outro medo: o medo dos deuses.
O medo dos deuses é o medo do mal que nos atinge sem que saibamos a causa.
A relação dos homens com os deuses sempre foi uma relação para evitar o mal.
"Livrai-nos do mal" pede a maior das orações da cristandade.
O mal é o raio que nos atinge. O mal é a fera que nos acua. O mal é a doença que nos infelicita. Porque isto acontece?
Não entendemos. E aí surgem espertalhões com resposta para tudo. E na falta de respostas inventam ilusões como resposta. A maior ameaça de todas as religiões e misticismos é contra os que não crêem. Qualquer crime pode ser perdoado menos a falta de fé. Justamente porque sabem o quanto é difícil crer em ilusões. É o elo fraco da religião acreditar em coisas das quais não há qualquer evidência. Um cientista que faz uma descoberta sente prazer em mostrar como descobriu. Ele não se ofende se alguém pergunta, muito pelo contrário. Para o religioso cada pergunta, cada dúvida, é uma ofensa. É uma ofensa porque um mágico não revela como chegou ao resultado simplesmente porque o resultado é uma ilusão. Todo feiticeiro é um mágico. Ou um mago. Suas respostas vem da emoção, vem do medo irracional que sentimos desde a infância. Medo terrível do que não compreendemos. Os deuses são reverenciados pela humanidade como pai ou como mãe. Pai nosso. Mãe de Deus. "Serei um menino bonzinho", parecem dizer os crentes, "para que você, Deus, não me faça mal". Todo homem para viver bem tem que deixar de ser criança. E isso significa responsabilidade por sua própria vida. Significa deixar de atribuir a outros, sejam homens ou deuses, o poder de dirigir nosso destino. Um adulto responsabiliza-se por seus fracassos e por seus sucessos. Negocia honestamente seus interesses com as outras pessoas. Assumir a responsabilidade por nossas escolhas, livrar-nos de medos irracionais infantis é essencial para ausência de perturbação na alma.
É perfeitamente possível ser bom sem religião
Muitos pensam que sem religião não há moral, entretanto, havia moral muito antes de haver religião. Os filósofos primeiros eram materialistas assim como os homens primitivos. Seus deuses eram materiais. O sol e a lua. O trovão e o raio. Depois, como disse Voltaire, "o primeiro espertalhão encontrou o primeiro tolo" e a religião começou. Sócrates foi condenado à morte por impiedade, ou seja, duvidava dos deuses do seu tempo. Hoje ninguém acredita nos deuses daquele tempo. A maioria das idéias aqui descritas são de Epicuro, o qual viveu 400 anos antes de Cristo e fundou uma escola que durou mil anos. Ensinava a ter hábitos moderados, a selecionar os desejos preferindo atender aos desejos naturais e necessários, a manter e cultivar a amizade, e a evitar o temor dos deuses e a aceitar a realidade da morte. Os homens podem ser bons sem a mediação de religiões. Não é preciso ter medo do castigo para agir bem. Filósofos há que escreveram explicando porque é bom ser bom. Aliás é muito sensato agir bem. "A vida reta é garantia da liberdade". Esse pensamento não cita deuses. E é um dos provérbios de Salomão.
Agir bem é conveniente
O inglês Thomas Hobbes elaborou o conceito de soberania segundo o qual o poder do rei é absoluto e perpétuo. Absoluto quer dizer um poder que não reconhece outro acima dele. Hoje se fala em soberania das nações. Isso significa que o governo não reconhece deuses acima dele. Significa a separação entre a igreja e o estado. Uma separação muito boa para o povo porque enquanto durou a união, durou a opressão. Ainda hoje, nos estados teocráticos existentes como no Irã, na Arábia Saudita, no Afeganistão, os governos são tiranos cheios de ódio. As guerras religiosas dilaceraram a Europa e ainda hoje dividem a Irlanda e a Indonésia. É perfeitamente possível ser bom sem religião. Os governo mais livres são justamente aqueles que não tem religião oficial. E há religiões sem deuses, como é o caso do budismo, embora alguns tenham transformado Buda num deus. Recentemente, o Papa descreveu o budismo como uma forma de materialismo. E está certíssimo. O budismo é uma série de normas de conduta para o bem viver e conviver. Os japoneses são xintoístas, reverenciam os seus ancestrais, assim como a igreja católica faz com os santos. Conforme o pensador acima citado, T. Hobbes, o homem precisa se conduzir bem, não por medo do inferno, mas por medo da repressão social, no interesse de sua reputação e da paz da sua consciência. Diz ele que o homem é um lobo mas é também uma defesa contra os lobos. Necessita viver em sociedade e a sociedade, para subsistir, precisa de paz e respeito entre os homens. O governo garantiria este pacto. A boa conduta garante este pacto. A violação do pacto leva à perda da liberdade, como observou Salomão. Além disso, quem se conduz bem é respeitado e amado. "Aquele que honra e respeita o seu semelhante será ele mesmo respeitado e honrado" diz o livro sagrado dos muçulmanos. Misticismo e atraso político andam de mãos dadas
Cito livros religiosos para mostrar que neles há muito boas orientações, entretanto, não é necessário crer em deuses para segui-las. São filosofias humanas. Escritas, às vezes, por bons escritores do seu tempo. Homens cultos para a época tornavam-se religiosos para poder estudar. Quem poderá negar o que há de bom nos evangelhos cristãos? Que pensamento revolucionário este que diz: "amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos maltratam" ou aquele que diz "procurai o reino de deus e sua justiça em primeiro lugar e o resto vos será dado por acréscimo". Ou aquele pensamento santo que nos proíbe de julgar nossos semelhantes. São normas de conduta, orientações para a vida que nada tem a ver como o sobrenatural e que são desobedecidas por muitos cristãos e obedecidas por muitos materialistas. Quando essas boas orientações são atribuídas a deuses, quando o temor de deus toma conta dos corações e as castas religiosas tornam-se poderosas aí, pode ter certeza, vem violência e ódio sobre os que discordam, sobre os infiéis.
Um dos últimos governos dominados pelo misticismo no mundo rico foi o alemão. Um fanático religioso cheio de misticismo e ódio aos ateus chegou o poder e seduziu a muitos. Provocou a maior guerra que o mundo já viu onde morreram 40 milhões de pessoas e foram usadas, pela primeira vez, mísseis e armas atômicas. Esse fanático perseguiu uma minoria religiosa acusada de matar o profeta da religião dominante e matou seis milhões de judeus com esse argumento. Foi o preço da morte de Jesus. O papa Pio XII silenciou. O fanático era um austríaco e chamava-se Adolf Hitler. Adotou como símbolo a suástica, que é um símbolo milenar de paz e progresso para os místicos hindus. Nas suas decisões ouvia os conselhos da astróloga Elisabeth Bernstein e quando os soviéticos tomaram Berlim encontraram os cadáveres dos monges tibetanos que o assessoravam. Por que será que nunca se fala do misticismo dos nazistas? Parece que o fanatismo religioso anda de mãos dadas com o fanatismo político. Talvez seja essa uma das causas do silêncio sobre o assunto.
Muleta psicológica
Alguns argumentam que a religião é uma muleta psicológica. Auxilia aos mais fracos, aqueles que não conseguem caminhar de forma autônoma. Entretanto, a psicologia faz isso de forma muito mais científica. Freud e outros médicos têm excelentes idéias sobre o funcionamento da psique e sobre as formas dos homens conhecerem a si mesmos e aos outros. Aliás, Freud escreveu um livro chamado O Futuro de uma ilusão, onde define religião como uma "neurose obsessiva universal da humanidade". Pouco se fala nesse excelente livro. Diz ele que os homens, no dia a dia de suas vidas, nos seus negócios particulares, duvidam de tudo e de tudo pedem garantias e comprovações, entretanto, sobre questões fundamentais para sua conduta moral aceitam textos sem verificar sua origem, atribuem a divindades estórias escritas por autores anônimos, aceitam como verdade feitos miraculosos sem qualquer comprovação, praticados, muitas vezes, por personagens que provavelmente nunca existiram. E tudo isso aceitam como verdade sagrada. Enquanto na saúde procuram os médicos e as técnica mais atuais, cercam-se da tecnologia mais recente, nos preceitos religiosos se guiam pelos profetas mais antigos, ou seja, pelos mais ignorantes.
O mito de Cristo
Homens livres e cultos seguem religiões criadas por escravos analfabetos, como aliás é o caso do cristianismo. Inicialmente era uma seita criada pelos judeus dispersos pelo império romano, desanimados com o judaísmo porque o Messias libertador não chegava nunca. Uma seita que fracassou entre os judeus, mas fez sucesso entre os escravos do império na região da Ásia Menor. O primeiro livro do evangelho cristão, o Apocalipse, dirige-se às sete igrejas da Ásia, e, estranhamente, não faz referência a Jesus. Também não fazem tal referência os historiadores da época tanto os judeus, quanto os romanos. Tudo indica que o mito de Cristo disseminou-se entre os escravos depois da fracassada guerra dos judeus contra os romanos, onde muitos místicos se declararam Messias. O mito propagou-se por tradição oral, pois os escravos eram analfabetos, durante cento e cinqüenta anos. Imagine a deturpação de uma história contada dessa maneira durante tanto tempo. Quando a Igreja chegou ao poder dominou a educação e a cultura, queimou os textos dos filósofos e fechou suas escolas, mandou escrever seus próprios textos muitos deles copiando parcialmente as idéias dos filósofos gregos que condenou. Mesmo assim não chegou a um acordo sobre Jesus é tanto que existem quatro evangelhos em vez de um. Todos eles começam com a palavra segundo, ou seja, "foi fulano que disse - não me comprometa!". Uma das dissidências dos cristãos dizia que Jesus era um espírito, outra que foi um homem, finalmente foi adotada a posição de que ele era as duas coisas deus e homem ao mesmo tempo. E essa mesma confusão existe em todas as religiões e em todos os misticismos porque são frutos do irracional. As conclusões sobre o mito de Cristo não são obra de ateus, mas de teólogos. Teólogos bem intencionados que, para defender a Igreja, resolveram investigar suas origens e surpreendentemente nada encontraram. O próprio Papa, finalmente, admitiu que era impossível traçar uma biografia histórica de Jesus. Afinal se existiu ou não tornou-se uma questão secundária. Talvez tenham existido não um, mas vários pregadores que se fundiram num só na imaginação popular. Um poderoso homem-deus cavalgando uma nuvem viria libertar os escravos indefesos dos seus opressores. Há outras culturas com mitos semelhantes. A história das religiões nos ajuda a entender esses fatos sociais.
Compreender para se feliz
Um grande filósofo e economista num debate com um grande amigo declarou que de nada adiantava polemizar com religiosos. Dizia Marx que e a religião era fruto da opressão a que o homem estava submetido pela organização da sociedade. A ausência de saída para essa opressão leva o homem a alienar-se e imaginar aquilo que não consegue obter: a justiça, o prêmio para os bons e castigo para os maus, a distribuição eqüânime dos bens materiais e espirituais, em suma, o céu. Aliena-se o homem da realidade porque pensa que é incapaz de mudá-la. Vive então uma vida dupla. A infelicidade no dia de hoje junto com a esperança de felicidade no futuro, depois da morte. Compara Marx tal alienação àquela que acomete os viciados em ópio, que embotam seus sentidos para fugir da dura realidade. Disse então ele: "a religião é o ópio do povo". Ela o ajuda a suportar a dura realidade. Para superá-la não adianta debater, é preciso superar a nossa atrasada realidade social. Marx, com observações como essas, muito contribuiu para a compreensão da realidade social, econômica e política. Entender ajuda a não se alienar. Entender é um caminho para ser feliz. A inteligência também é denominada entendimento. São Francisco, um grande homem, pede na sua oração: "que eu procure mais compreender do que ser compreendido". É um pedido sábio. É o contrário da alienação. Os loucos são ditos alienados. Perderam inteiramente o contato com a realidade. Desistiram de entender. A consciência nos provoca dor, mas faz parte da condição humana. Escapamos da dor aprofundando e não negando a nossa consciência do mundo. Consciência do momento que vivemos. Superamos a dor vivendo o dia de hoje, sem temer o futuro, nem lamentar o passado. "Carpe diem" - diziam os romanos. Aproveite o dia. A vida não é a partida, nem a chegada, a vida é a caminhada
O ser humano para ser bom e feliz não precisa de misticismo, precisa de racionalidade, auto-conhecimento, conhecimento do seu meio físico, social e cultural, conhecimento e respeito pelos outros e pelo mundo. Precisa saber que ele é do mundo e não o mundo é dele. Precisa se livrar de maya, a ilusão das necessidade artificiais, e atender aos seus desejos naturais e necessários. Pode ler os textos religiosos sabendo que neles há muita coisa boa, mas ler com os olhos da ciência, da literatura, da filosofia, da psicologia, da história. A ciência e o espírito científico são grande amigos do ser humano. São insuficientes, mas são o que temos de mais certo. "Nada é certo", disse o francês Albert Camus, "mas isto já é uma certeza". Viver é como caminhar sobre troncos que bóiam num rio e que não suportam sozinhos o nosso peso. Antes que afundem é preciso pular para o próximo, mover-se, seguir em frente em direção a outra margem. Na caminhada nada nos ampara, na outra margem nada nos espera. A vida não é a partida, nem a chegada, a vida é a caminhada.
Ser bom, sem religião
Evitando a dor da alma
Evitando a dor do corpo pelo atendimento a nossos desejo naturais é necessário evitar a dor da alma. E a maior dor da alma vem do medo. O medo da morte e o medo dos deuses. O medo é mau conselheiro e, segundo George Lukas, gera a ira e o ressentimento. O medo da morte nasce da nossa consciência que antecipa o futuro. Para os irracionais a morte é uma experiência única, mas nós, conscientes, antecipamos o futuro e isso consome nossa alma. Somos racionais e a mesma razão que nos prende pode nos libertar. Compreendamos que a morte não existe enquanto vivermos e, uma vez mortos, não existimos, então, não sentimos, exatamente como era antes de nascermos. Vivos não há morte, mortos já não somos. Não podemos ter medo do que ainda não existe e, quando existir, não estaremos lá. A dor será para os outros. Aceitar a própria morte não é fácil mas é essencial para uma vida tranqüila. Muitos embusteiros vivem do medo da morte. E a este medo ajuntam outro medo: o medo dos deuses.
O medo dos deuses é o medo do mal que nos atinge sem que saibamos a causa. A relação dos homens com os deuses sempre foi uma relação para evitar o mal. "Livrai-nos do mal" pede a maior das orações da cristandade. O mal é o raio que nos atinge. O mal é a fera que nos acua. O mal é a doença que nos infelicita. Porque isto acontece? Não entendemos. E aí surgem espertalhões com resposta para tudo. E na falta de respostas inventam ilusões como resposta. A maior ameaça de todas as religiões e misticismos é contra os que não crêem. Qualquer crime pode ser perdoado menos a falta de fé. Justamente porque sabem o quanto é difícil crer em ilusões. É o elo fraco da religião acreditar em coisas das quais não há qualquer evidência. Um cientista que faz uma descoberta sente prazer em mostrar como descobriu. Ele não se ofende se alguém pergunta, muito pelo contrário. Para o religioso cada pergunta, cada dúvida, é uma ofensa. É uma ofensa porque um mágico não revela como chegou ao resultado simplesmente porque o resultado é uma ilusão. Todo feiticeiro é um mágico. Ou um mago. Suas respostas vem da emoção, vem do medo irracional que sentimos desde a infância. Medo terrível do que não compreendemos. Os deuses são reverenciados pela humanidade como pai ou como mãe. Pai nosso. Mãe de Deus. "Serei um menino bonzinho", parecem dizer os crentes, "para que você, Deus, não me faça mal". Todo homem para viver bem tem que deixar de ser criança. E isso significa responsabilidade por sua própria vida. Significa deixar de atribuir a outros, sejam homens ou deuses, o poder de dirigir nosso destino. Um adulto responsabiliza-se por seus fracassos e por seus sucessos. Negocia honestamente seus interesses com as outras pessoas. Assumir a responsabilidade por nossas escolhas, livrar-nos de medos irracionais infantis é essencial para ausência de perturbação na alma. É perfeitamente possível ser bom sem religião
Muitos pensam que sem religião não há moral, entretanto, havia moral muito antes de haver religião. Os filósofos primeiros eram materialistas assim como os homens primitivos. Seus deuses eram materiais. O sol e a lua. O trovão e o raio. Depois, como disse Voltaire, "o primeiro espertalhão encontrou o primeiro tolo" e a religião começou. Sócrates foi condenado à morte por impiedade, ou seja, duvidava dos deuses do seu tempo. Hoje ninguém acredita nos deuses daquele tempo. A maioria das idéias aqui descritas são de Epicuro, o qual viveu 400 anos antes de Cristo e fundou uma escola que durou mil anos. Ensinava a ter hábitos moderados, a selecionar os desejos preferindo atender aos desejos naturais e necessários, a manter e cultivar a amizade, e a evitar o temor dos deuses e a aceitar a realidade da morte. Os homens podem ser bons sem a mediação de religiões. Não é preciso ter medo do castigo para agir bem. Filósofos há que escreveram explicando porque é bom ser bom. Aliás é muito sensato agir bem. "A vida reta é garantia da liberdade". Esse pensamento não cita deuses. E é um dos provérbios de Salomão.
Agir bem é conveniente
O inglês Thomas Hobbes elaborou o conceito de soberania segundo o qual o poder do rei é absoluto e perpétuo. Absoluto quer dizer um poder que não reconhece outro acima dele. Hoje se fala em soberania das nações. Isso significa que o governo não reconhece deuses acima dele. Significa a separação entre a igreja e o estado. Uma separação muito boa para o povo porque enquanto durou a união, durou a opressão. Ainda hoje, nos estados teocráticos existentes como no Irã, na Arábia Saudita, no Afeganistão, os governos são tiranos cheios de ódio. As guerras religiosas dilaceraram a Europa e ainda hoje dividem a Irlanda e a Indonésia. É perfeitamente possível ser bom sem religião. Os governo mais livres são justamente aqueles que não tem religião oficial. E há religiões sem deuses, como é o caso do budismo, embora alguns tenham transformado Buda num deus. Recentemente, o Papa descreveu o budismo como uma forma de materialismo. E está certíssimo. O budismo é uma série de normas de conduta para o bem viver e conviver. Os japoneses são xintoístas, reverenciam os seus ancestrais, assim como a igreja católica faz com os santos. Conforme o pensador acima citado, T. Hobbes, o homem precisa se conduzir bem, não por medo do inferno, mas por medo da repressão social, no interesse de sua reputação e da paz da sua consciência. Diz ele que o homem é um lobo mas é também uma defesa contra os lobos. Necessita viver em sociedade e a sociedade, para subsistir, precisa de paz e respeito entre os homens. O governo garantiria este pacto. A boa conduta garante este pacto. A violação do pacto leva à perda da liberdade, como observou Salomão. Além disso, quem se conduz bem é respeitado e amado. "Aquele que honra e respeita o seu semelhante será ele mesmo respeitado e honrado" diz o livro sagrado dos muçulmanos. Misticismo e atraso político andam de mãos dadas
Cito livros religiosos para mostrar que neles há muito boas orientações, entretanto, não é necessário crer em deuses para segui-las. São filosofias humanas. Escritas, às vezes, por bons escritores do seu tempo. Homens cultos para a época tornavam-se religiosos para poder estudar. Quem poderá negar o que há de bom nos evangelhos cristãos? Que pensamento revolucionário este que diz: "amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos maltratam" ou aquele que diz "procurai o reino de deus e sua justiça em primeiro lugar e o resto vos será dado por acréscimo". Ou aquele pensamento santo que nos proíbe de julgar nossos semelhantes. São normas de conduta, orientações para a vida que nada tem a ver como o sobrenatural e que são desobedecidas por muitos cristãos e obedecidas por muitos materialistas. Quando essas boas orientações são atribuídas a deuses, quando o temor de deus toma conta dos corações e as castas religiosas tornam-se poderosas aí, pode ter certeza, vem violência e ódio sobre os que discordam, sobre os infiéis.
Um dos últimos governos dominados pelo misticismo no mundo rico foi o alemão. Um fanático religioso cheio de misticismo e ódio aos ateus chegou o poder e seduziu a muitos. Provocou a maior guerra que o mundo já viu onde morreram 40 milhões de pessoas e foram usadas, pela primeira vez, mísseis e armas atômicas. Esse fanático perseguiu uma minoria religiosa acusada de matar o profeta da religião dominante e matou seis milhões de judeus com esse argumento. Foi o preço da morte de Jesus. O papa Pio XII silenciou. O fanático era um austríaco e chamava-se Adolf Hitler. Adotou como símbolo a suástica, que é um símbolo milenar de paz e progresso para os místicos hindus. Nas suas decisões ouvia os conselhos da astróloga Elisabeth Bernstein e quando os soviéticos tomaram Berlim encontraram os cadáveres dos monges tibetanos que o assessoravam. Por que será que nunca se fala do misticismo dos nazistas? Parece que o fanatismo religioso anda de mãos dadas com o fanatismo político. Talvez seja essa uma das causas do silêncio sobre o assunto.
Muleta psicológica
Alguns argumentam que a religião é uma muleta psicológica. Auxilia aos mais fracos, aqueles que não conseguem caminhar de forma autônoma. Entretanto, a psicologia faz isso de forma muito mais científica. Freud e outros médicos têm excelentes idéias sobre o funcionamento da psique e sobre as formas dos homens conhecerem a si mesmos e aos outros. Aliás, Freud escreveu um livro chamado O Futuro de uma ilusão, onde define religião como uma "neurose obsessiva universal da humanidade". Pouco se fala nesse excelente livro. Diz ele que os homens, no dia a dia de suas vidas, nos seus negócios particulares, duvidam de tudo e de tudo pedem garantias e comprovações, entretanto, sobre questões fundamentais para sua conduta moral aceitam textos sem verificar sua origem, atribuem a divindades estórias escritas por autores anônimos, aceitam como verdade feitos miraculosos sem qualquer comprovação, praticados, muitas vezes, por personagens que provavelmente nunca existiram. E tudo isso aceitam como verdade sagrada. Enquanto na saúde procuram os médicos e as técnica mais atuais, cercam-se da tecnologia mais recente, nos preceitos religiosos se guiam pelos profetas mais antigos, ou seja, pelos mais ignorantes.
O mito de Cristo
Homens livres e cultos seguem religiões criadas por escravos analfabetos, como aliás é o caso do cristianismo. Inicialmente era uma seita criada pelos judeus dispersos pelo império romano, desanimados com o judaísmo porque o Messias libertador não chegava nunca. Uma seita que fracassou entre os judeus, mas fez sucesso entre os escravos do império na região da Ásia Menor. O primeiro livro do evangelho cristão, o Apocalipse, dirige-se às sete igrejas da Ásia, e, estranhamente, não faz referência a Jesus. Também não fazem tal referência os historiadores da época tanto os judeus, quanto os romanos. Tudo indica que o mito de Cristo disseminou-se entre os escravos depois da fracassada guerra dos judeus contra os romanos, onde muitos místicos se declararam Messias. O mito propagou-se por tradição oral, pois os escravos eram analfabetos, durante cento e cinqüenta anos. Imagine a deturpação de uma história contada dessa maneira durante tanto tempo. Quando a Igreja chegou ao poder dominou a educação e a cultura, queimou os textos dos filósofos e fechou suas escolas, mandou escrever seus próprios textos muitos deles copiando parcialmente as idéias dos filósofos gregos que condenou. Mesmo assim não chegou a um acordo sobre Jesus é tanto que existem quatro evangelhos em vez de um. Todos eles começam com a palavra segundo, ou seja, "foi fulano que disse - não me comprometa!". Uma das dissidências dos cristãos dizia que Jesus era um espírito, outra que foi um homem, finalmente foi adotada a posição de que ele era as duas coisas deus e homem ao mesmo tempo. E essa mesma confusão existe em todas as religiões e em todos os misticismos porque são frutos do irracional. As conclusões sobre o mito de Cristo não são obra de ateus, mas de teólogos. Teólogos bem intencionados que, para defender a Igreja, resolveram investigar suas origens e surpreendentemente nada encontraram. O próprio Papa, finalmente, admitiu que era impossível traçar uma biografia histórica de Jesus. Afinal se existiu ou não tornou-se uma questão secundária. Talvez tenham existido não um, mas vários pregadores que se fundiram num só na imaginação popular. Um poderoso homem-deus cavalgando uma nuvem viria libertar os escravos indefesos dos seus opressores. Há outras culturas com mitos semelhantes. A história das religiões nos ajuda a entender esses fatos sociais.
Compreender para se feliz
Um grande filósofo e economista num debate com um grande amigo declarou que de nada adiantava polemizar com religiosos.

Dizia Marx que e a religião era fruto da opressão a que o homem estava submetido pela organização da sociedade.

A ausência de saída para essa opressão leva o homem a alienar-se e imaginar aquilo que não consegue obter: a justiça, o prêmio para os bons e castigo para os maus, a distribuição eqüânime dos bens materiais e espirituais, em suma, o céu.

Aliena-se o homem da realidade porque pensa que é incapaz de mudá-la.

Vive então uma vida dupla. A infelicidade no dia de hoje junto com a esperança de felicidade no futuro, depois da morte.

Compara Marx tal alienação àquela que acomete os viciados em ópio, que embotam seus sentidos para fugir da dura realidade.

Disse então ele: "a religião é o ópio do povo". Ela o ajuda a suportar a dura realidade.

Para superá-la não adianta debater, é preciso superar a nossa atrasada realidade social.

Marx, com observações como essas, muito contribuiu para a compreensão da realidade social, econômica e política.

Entender ajuda a não se alienar.

Entender é um caminho para ser feliz.

A inteligência também é denominada entendimento.

São Francisco, um grande homem, pede na sua oração: "que eu procure mais compreender do que ser compreendido".

É um pedido sábio.

É o contrário da alienação.

Os loucos são ditos alienados.


Perderam inteiramente o contato com a realidade.

Desistiram de entender.

A consciência nos provoca dor, mas faz parte da condição humana.

Escapamos da dor aprofundando e não negando a nossa consciência do mundo.

Consciência do momento que vivemos. Superamos a dor vivendo o dia de hoje, sem temer o futuro, nem lamentar o passado.

"Carpe diem" - diziam os romanos.

Aproveite o dia.

A vida não é a partida, nem a chegada, a vida é a caminhada
O ser humano para ser bom e feliz não precisa de misticismo, precisa de racionalidade, auto-conhecimento, conhecimento do seu meio físico, social e cultural, conhecimento e respeito pelos outros e pelo mundo.

Precisa saber que ele é do mundo e não o mundo é dele.

Precisa se livrar de maya, a ilusão das necessidade artificiais, e atender aos seus desejos naturais e necessários.

Pode ler os textos religiosos sabendo que neles há muita coisa boa, mas ler com os olhos da ciência, da literatura, da filosofia, da psicologia, da história.

A ciência e o espírito científico são grande amigos do ser humano.

São insuficientes, mas são o que temos de mais certo.

"Nada é certo", disse o francês Albert Camus, "mas isto já é uma certeza".

Viver é como caminhar sobre troncos que bóiam num rio e que não suportam sozinhos o nosso peso.

Antes que afundem é preciso pular para o próximo, mover-se, seguir em frente em direção a outra margem.


Na caminhada nada nos ampara, na outra margem nada nos espera.


A vida não é a partida, nem a chegada, a vida é a caminhada.